EQUIPE DA PROF. TATIANA - O ENSINO DA LINGUA PADRÃO

quinta-feira, 10 de junho de 2010

“O Ensino da Língua Padrão”



Atualmente, vive-se uma verdadeira conjuntura de incertezas dos padrões na cultura e na ciência. Surge um novo modo de compreender o mundo, as pessoas e, logicamente, uma nova maneira de "conhecer" está adquirindo forma. Esse novo modo de conhecimento está sendo chamado de ciência pós- moderna.

Se existe um novo modo de conhecer, o ensino da Língua Portuguesa também tem que ser pensado diante desse novo enfoque. O que causa preocupação é a maneira como se ensina a Língua Portuguesa na Educação Básica, a obsessão gramaticalista, a distorcida visão de que ensinar uma língua seja ensinar a escrever "certo", o esquecimento a que se relega à prática da língua, e mais que tudo, a postura opressora e repressora, alienada e alienante desse ensino.

Urge, portanto, a mudança no ensino da Língua Portuguesa, passando de uma postura normativa, purista e alienada para uma visão do aluno como alguém que já sabe a sua língua, pois a maneja com naturalidade muito antes de ir à escola e, apenas necessita, aperfeiçoar-se nesse campo, aprender a ler e escrever, ser exposto a diversos modelos de língua escrita e oral e fazer tudo isso com prazer e segurança, num ensino no mais íntimo terreno da vida humana, que é a linguagem, onde estruturamos o mundo em nosso interior e nos ligamos a ele.

A educação está na pauta das discussões mundiais. Em diferentes lugares do mundo discute-se cada vez mais o papel essencial que ela desempenha no desenvolvimento das pessoas e sociedades.

Se o ensino da língua materna está fracassando, faz-se necessário repensá-lo e transformar as ações diante deste pressuposto. O que se percebe ainda em aulas de língua portuguesa é o ensino da gramática normativa, um ensino que reduz a língua a uma variedade linguística de forma mecânica e reprodutora. Se há fracasso, evidentemente, que esta não é a melhor maneira, nem o melhor caminho a ser seguido.

Nesse contexto, não é permitido ao educador levar os estudantes a engolir um conhecimento da língua bem "empacotado", pouco significativo para eles. Sendo assim, o educador deverá oferecer instrumentos e condições que ajude o aluno à "aprender a aprender". Uma educação que o ajude a formular hipóteses, construir caminhos, tomar decisões, tanto no plano individual como coletivo.

O educador deve perceber que o objetivo maior do ensino da Língua Portuguesa não é o aluno conhecer ou saber todas as regras gramaticais, mas fazê-lo aprender as maneiras de pesquisar e de refletir, utilizando métodos de percepção que possa aplicar sozinho.

Para o paradigma emergente educacional infere-se que o ensino da linguagem padrão contemporânea deva basear-se na prática da leitura. A leitura é um processo de aprendizagem da língua padrão. O leitor não é passivo, mas agente, porque busca significações, e a partir destes, constrói para si novos entendimentos. A leitura é enriquecedora, através dela se conhece a força das palavras, ela nos ajuda a pensar, refletir e ver o mundo com outro olhar. Não um olhar ingênuo, mas questionador de quem quer buscar e descobrir.


O ensino da gramática (prejudicial)

Muito se tem discutido sobre o ensino da língua padrão e suas implicações e isso não se limita apenas em ser contra ou a favor da mesma, o tema é muito amplo e abre espaço para debates que vão desde a questão do preconceito lingüístico até a de que a língua é resultado de trabalho humano e se constitui entre sujeitos não sendo apenas uma atuação concreta de interação.


Considerando o fato de que ao chega à escola, todos já falam a língua para fins de comunicação, todos trazem consigo uma imensa bagagem cultural, sendo assim torna-se importante a possível utilização de variedades lingüísticas no cotidiano em situações informais.

Embora haja princípios e afirmações sem respaldo algum pelo menos no sentido pedagógico como este a seguir encontrado nas palavras de Luft (1993, p. 66):

A língua é nossa! – Assim, deveria chamar a consciência dos alunos e falantes em geral, [...] Não é propriedade de gramático e lingüistas, professores, doutores e escritores. Cada falante tem direito de proclamar: - A língua é minha!

É obvio que em se tratando de linguagem informal o indivíduo pode sim, ou até certo ponto utilizar sua linguagem da maneira que quiser, mas em se tratando de situação formal, a sociedade exige uma linguagem bem definida.

Embora seja o povo que faz a língua, não se deve aceitar tudo o que é criado por ele, pois não é muito conveniente o surgimento de muitos dialetos, o que seria um distanciamento entre uma modalidade e outra.

O ENSINO DE GRAMÁTICA EM UMA PERSPECTIVA TEXTUAL

Nos últimos tempos, com os avanços das ciências relacionadas à linguagem, muito se tem discutido e pesquisado quanto ao ensino de gramática. Num primeiro momento, chegou-se até a questionar sobre ensiná-la ou não. Atualmente, a idéia que se tem é de que ela deve ser trabalhada na escola, e o que se questiona é como se deve fazê-lo. Há um consenso, de certo modo generalizado, de que esse ensino deve ser feito através de textos. Encontra-se um bom número de materiais teóricos sobre o assunto, mas ainda é incipiente o número de trabalhos, mesmo em gramáticas pedagógicas ou em livros didáticos, que tentam colocar essas questões em prática. É lógico que, numa perspectiva textual, o professor deve trabalhar com textos de tipologias variadas e adequados às diferentes situações que estejam sendo vivenciadas pelos alunos. É lógico também que não há um único modelo a ser seguido por todos, mas se faz necessário mostrar como o professor pode explorar esses textos para ensinar gramática. Neste artigo, pretendemos trazer, através de dois exemplos práticos, algumas dentre as tantas possibilidades de se realizar um ensino nessa perspectiva; um ensino em que os textos - de tipologias variadas, desde aqueles produzidos por terceiros até os produzidos pelos próprios alunos - sejam o ponto de partida e também o de chegada para o aprendizado de gramática nos terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental e no ensino médio.

Palavras-chave: ensino de gramática, textos, ensinos fundamental e médio.

O ENSINO DA GRAMÁTICA essencial


Se questionarmos a função da escola para com as nossas crianças, a resposta será

unânime, ensinar a leitura e a escrita. Para desenvolver essa função, a escola utiliza a gramática como ponto de partida, a qual passa a ocupar papel central no processo

ensino/aprendizagem, pois se acredita que para a criança aprender a ler e a escrever, a mesma precisa dominar a gramática da língua. Entretanto, há muitas críticas a essa metodologia, pois a maneira como a gramática vem sendo ensinada em sala de aula, não tem contribuído com os objetivos do ensino da Língua Portuguesa, que seria desenvolver a competência lingüística dos alunos, assim, o

ensino da gramática torna-se “inútil”. Nota-se que a escola ao dar tanta ênfase à gramática da língua, com inúmeros exercícios gramaticais, deixa de lado outros itens que contribuiriam em muito para o verdadeiro domínio da linguagem pela criança.

Assim, a gramática transforma-se em “algo” nocivo à aprendizagem, característica que é confirmada na prática cotidiana em sala de aula, onde o objetivo do ensino da Língua Portuguesa tem se restringido ao ensino das estruturas e regras gramaticais da língua, ignorando seu principal objeto de estudo: a linguagem em suas várias formas de comunicação e interação humana.


Essa ênfase ao ensino da gramática ganha certa justificativa, segundo Antunes (2007), pela falsa idéia que língua e gramática são a mesma coisa, assim, ingenuamente, a escola ensina a gramática crendo que esta ensinando a língua. A gramática nada mais é que uma das partes integrantes da língua, sendo responsável pela regularização da mesma, ao estabelecer determinadas regras, e não a própria língua. Tem função reguladora, mas não regula tudo, é

importante, mas não é tudo. Sendo assim “[...] restringir-se, pois a sua gramática é limitar-se a um de seus componentes apenas. É perder de vista sua totalidade e, portanto, falsear a compreensão de suas múltiplas determinações.” (ANTUNES, 2007, p. 41). Entretanto, torna-se praticamente impossível pensar no ensino de Língua Portuguesa incumbido de ensinar a leitura e a escrita, sem que a gramática nos venha à cabeça.

Atribuímos inconscientemente o aprendizado destes, ao aprendizado da gramática.

988 Certamente o mesmo ocorre com os professores que na maioria das vezes sem conhecimento e formação suficiente incorporam essa concepção, de que para dominar a língua é necessário o domínio de sua gramática, resultando no fracasso lingüísticos dos alunos, os quais ao invés

de estudarem a língua em seu pleno funcionamento, estudam isoladamente apenas sua gramática.

O estudo da gramática é importante e deve ocorrer, pois o aluno conhecendo as

estruturas da língua ira utilizá-la de maneira mais consciente (LIMA, 2006), todavia esse ensino não deve ser precipitado como vem ocorrendo. Como cita Bagno (1999, p. 52) “É claro que é preciso ensinar a escrever de acordo com a ortografia oficialmente, mas não se

pode fazer isso tentando criar uma língua falada “artificial” e reprovando como “erradas” as pronúncias que são resultado natural das forças internas que governam o idioma”. Esse ensino deveria ser precedido pelo estudo da língua em suas verdadeiras condições de uso, com objetivo de proporcionar aos alunos o conhecimento e domínio das diferentes formas de comunicação, incluindo as diferentes tipologias textuais existentes e não apenas a norma culta e sua gramática, para que no “fim do processo” os mesmos sejam capazes de optar pela linguagem que mais se adapta a situação vivenciada. Como pontua Antunes (2007,

p.99). “É de fundamental importância saber discernir o que é adequado a cada situação, para se poder, com eficiência, escolher esta ou aquela norma, este ou aquele padrão vocabular, este ou aquele tom, esta ou aquela direção argumentativa”.Estes, os gêneros discursivos, deveriam ser as prioridades e os principais objetivos do ensino da Língua Portuguesa, possibilitando assim aos alunos o verdadeiro domínio sobre a

língua, para posteriormente partir para o ensino da sua gramática. Mas infelizmente a realidade desse ensino está invertida, parte-se do ensino da gramática para então se trabalhar com a língua em si, e quando isso ocorre, pois na maioria das vezes o ensino da Língua Portuguesa fica restrito apenas ao ensinamento das regras gramaticais. Como alerta Bagno

(1999, p.107-108).

Nesse sentido, o método a ser usado pelo professor deve ser aberto para novas práticas, ser flexível e criar situações que sejam significativas para o aluno. O educador deve identificar as necessidades e expectativas dos educandos, antes de planejar o que pretende ensinar, deve também conhecer e valorizar a linguagem do aluno, como um instrumento adequado e eficiente na comunicação cotidiana. Sendo assim, conclui-se que, se desenvolva no aluno muito mais do que a capacidade do estudo da língua padrão, faz-se necessário uma mobilização interna que demande no gosto pelo prazer de ler e escrever, que, conquistado em toda a sua plenitude trará ao educando autonomia e independência, além de segurança de expressão, contribuído dessa forma, para uma linguagem diversificada, de qualidade, com maiores opções de expressão, interpretação e análise crítica, possibilitando ao educando sua participação social no exercício da cidadania.